As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

quarta-feira, maio 03, 2006

1º de Maio

1 de Maio. Manhã do Dia do Trabalhador. Manhã de Sol, não muito calor, pouco vento. Uma manhã perfeita para ir fazer um bocadinho de geocaching na Serra de Sintra. Tinha-me decidido a ir procurar 3 caches na Serra de Sintra que já estavam há algum tempo debaixo de olho. E que melhor manhã do que esta?

Primeira paragem – Cabo da Roca. Estacionei o carro no parque junto ao posto de turismo e checkei o GPS e a mochila. Troquei as pilhas ao GPS e vamos a isto. Encaminhei-me ao longo da estrada, na direcção da serra e, umas poucas dezenas de metros mais à frente, virei à esquerda, para um estreito caminho pela vegetação rasteira. Seguindo o caminho, que mal se divisava, com o olhar, via que primeiro cruzava uma linha de água, por entre a vegetação, para logo a seguir se encaminhar para um cabelo de pedra, grande e alto, contornando-o e desaparecendo na falésia. Aí, a pouco mais de 150 metros, estava escondida a cache ‘Cabo da Roca II’ – o meu primeiro objectivo para esta manhã.

O geocaching é um jogo giro. Para quem não sabe o que é, o geocaching não é mais que um jogo de caça ao tesouro, com meios de alta tecnologia. É jogado por toda uma comunidade (aberta), que tem acesso ao jogo através de um website na net (na realidade, há vários que servem o jogo, mas o principal é o http://www.geocaching.com/), onde se encontram as coordenadas de dezenas de milhares de caches, por todo o Mundo. Uma cache não é mais do que um recipiente, contendo uma nota informativa sobre o que é o geocaching, um logbook e um lápis para registar as visitas e algumas prendas de baixo valor – o verdadeiro tesouro é a descoberta da cache, seja pelo local onde se encontra (muitas vezes, recantos escondidos onde nunca se iria se não fosse o geocaching) ou pela superação de algum desafio aventureiro ou intelectual. Basicamente, é isto o geocaching. E era atrás de três destas caches que eu andava nesta manhã.

Comecei a andar pelo estreito caminho, aqui e ali coberto de vegetação rasteira, atravessando a extensão de verde que me separava do cabeço. A progressão não era nada complicada e, 2 minutos depois, estava junto à primeira curva no cabeço, onde o caminho se aproximava da falésia. Foi aqui que estaquei da última vez, não conseguindo controlar as minhas vertigens, ante a visão do precipício e da próxima curva, para lá da qual não se divisava caminho.

Avaliei o trajecto que teria que fazer e, racionalmente, percebi que não era perigoso. O caminho era suficientemente amplo para, apesar de tudo, duas pessoas se cruzarem e o precipício não oferecia, por isso, problema de maior. A próxima curva provavelmente forneceria a resposta à questão “mas por onde continua o caminho?”, portanto segui em frente e encurtei a distância que me separava da cache. Conforme eu pensava, o caminho continuava para lá da curva, descendo de forma mais inclinada, mas afastada do precipício, levando-me, novamente pelo meio da vegetação rasteira típica do Cabo da Roca, direitinho para uma rocha um pouco mais saliente e, de lá, para o vazio…

Aproximei-me devagarinho, controlando as vertigens e… a apenas um metro da borda, eis que vejo novamente o caminho à minha frente, a descer, num ângulo que tornava impossível que o vislumbrasse um pouco mais de cima. Continuei a seguir o caminho, que me levou a um beco (ou arriba) sem saída. Olhei para a setinha do GPS. A cache devia estar ali, naquele local um pouco mais à esquerda, como lá chegar, espera, é por ali, pelo meio da erva. Dois minutos depois, estava a assinar o logbook. Depois, foi só tirar umas fotografias, e ala a subir até ao carro. A próxima esperava por mim.

Depois de uma passagem rápida pela Peninha, para verificar a cache de um outro geocacher, foi tempo de atacar um dos picos das imediações. Uma sucessão de penedos a elevar-se da área do parque de piqueniques da Peninha, até aos 490 metros de altitude. Maravilhoso!

Saí do bulício do parque de merendas (era incrível a confusão, com inúmeras famílias a ocuparem lugares para piqueniques, algumas delas com autênticas tendas, e carros estacionados a dificultarem a passagem na estrada estreita), e dirigi-me para o bosque, onde, para minha surpresa, pelo meio das árvores, encontrei um trilho perfeitamente marcado por sinais de plástico presos a ramos, que me levou direitinho até ao monte de penedos. Ainda por cima, abria-se à minha frente uma rota simples de escalar, para os 15 metros verticais e 20 horizontais que me faltavam até à cache. Foi uma questão de perceber onde pôr os pés, onde colocar o corpo, e era uma via de bouldering perfeitamente simples, um 3.c que rapidamente ultrapassei – foi também um bom teste ao meu joelho esquerdo em recuperação de uma lesão de esforço típica de corridas de longas distâncias.

Já lá em cima, a vista 360º era impressionante! Cascais, Guincho, Oeiras, Colares, Ericeira e, mais perto, a floresta da Serra de Sintra, com os penedos da Peninha e do Monge a destacarem-se. Penso que também vi o local de ‘Amon Hen’, o cume da visão, uma interessante multi-cache na serra. Soberbo! Ainda tirei uns minutos para ficar ai em cima, tranquilamente, sem fazer nada, a gozar o Sol quente do meio-dia, a 490 metros de altitude, apenas com os sons distantes dos piqueniques ao longe. Ficaria bem ali umas horinhas, como um lagarto ao Sol! Passado o momento de remanso, foi altura de procurar a cache e, depois de um momento de desilusão por ter descoberto um saco de garrafas de cerveja vazias num local tão isolado quanto este (sim, até aqui deixamos lixo), rapidamente a descobri, bem aninhada e escondida. Logbook assinado e, o que se subiu tem que se descer, e lá fui eu por ali abaixo até ao carro.

Terceira e última cache do dia. A ‘O Lugar dos Mortos’. Pouca gente sabe mas, a quase 500 metros de altitude, num local conhecido por Monge, no meio da Serra de Sintra, encontramos um ‘Tholos’ paleolítico, um antigo local funerário. Aí, nas imediações, encontramos uma micro-cache. Estacionei o carro na selada dos Capuchos (depois de ter ido dar a volta pelo Pé da Serra, devido à infernal confusão na zona dos piqueniques) e comecei a atacar o estradão para a cache. É um estradão em que, no Verão, os carros ‘normais’ passam perfeitamente, mas preferi fazer os 130 metros verticais a pé – estou a precisar de treino e ritmo, depois de tanto tempo de perna ‘estendida’. Acreditem que soube bem! Chegado ao Monge, foi a titânica tarefa da busca. Procurar uma micro-cache (normalmente, uma caixa de rolo fotográfico), no meio de tantos calhaus, cobertos de hera, arbustos e ervas de todas as espécies, com uma precisão de GPS de 4 metros (mais o possível EPE do owner quando mediu as coordenadas), confiem em mim, é tenebroso! Depois de 15 minutos a revolver tudo, quando me preparava para vir embora, decidi ir até um local que não tinha explorado e onde havia uma pedra apetecível. Revirei-a, nada, e voltei-me para abandonar as buscas e vir-me embora. O que vi, fez os meus olhos saltarem-me das órbitas...

Depois, foi só uma questão de voltar a descer (mais fácil), cruzando-me ainda com dois betetistas, voltar para o carro e dar a muito bem passada manhã de geocaching encerrada. Por agora, faltam-me apenas duas caches na vertente Norte da serra, uma na Sul e outra no primeiro pico Leste – todas à espera da minha próxima visita.