As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

sábado, maio 12, 2007

Decisão "go not go"


Sabem quando estamos quase a chegar ao nosso objectivo, àquilo que queremos 'conquistar' e, de repente, acontece algo que muda a nossa percepção do caminho para o atingir, acrescenta uma nova (tremenda) dificuldade para lá chegarmos, e somos obrigados a tomar uma decisão - prosseguimos ou desistimos?


Estive recentemente envolvido numa situação dessas, no 1º acampamento geocaching. Era uma segunda-feira de manhã e deixámos o Parque de Campismo do Pião para atacar o Cântaro Gordo. O primeiro sinal de que o tempo seria agreste foi dado logo quando fomos deixar alguns carros ao final do percurso, junto às pistas de ski da Torre. Estava um nevoeiro tremendo e os termómetros dos carros indicavam... -2ºC!!!


Já sabíamos que iríamos ter frio no cume. Cá em baixo, no início do percurso, no Covão da Ametade, uma estimativa mais actualizada do boletim meteorológico local indicava que provavelmente nevaria na Torre a partir das 15h - o que nos deixava cerca de 5 horas para fazer a ascensão e descobrir as caches que constituíam esta multi. Ok, o percurso deve tomar cerca de 3h30, portanto, à partida, estamos ok. E começámos a subir em direcção à primeira micro, junto à Lagoa dos Cântaros...


Só que, as previsões e o tempo têm destas coisas. Afinal, por alguma razão na montanha não devemos facilitar e devemos andar sempre prevenidos. Decorridos meros 100, 200 metros do trajecto, no início ainda da ascensão... começa a nevar! A princípio, timidamente, depois com cada vez mais força! Paragem instintiva do grupo de cerca de 20 pessoas, em que enquanto uns olhavam à volta, outros preparavam-se um pouco melhor - eu vesti logo o impermeável e levantei o capuz!


E agora? Decisão difícil - continuávamos a ascensão, sabendo que a partir dali, e como estávamos a subir, seria sempre pior em termos de neve, com um grupo de 20 pessoas, em que nem todas elas teriam condições para suportar uma ascensão longa em terreno cada vez mais inóspito a cada segundo que passava ou desistir de prosseguir, abandonar o objectivo, agora que já tínhamos os pés a caminho?


Eu, pessoalmente, já tinha decidido intimamente o que fazer numa situação destas. Avaliar a situação e nunca arriscar. O Cântaro continuaria lá e, não arriscando, tinha sempre possibilidades de o voltar a 'atacar'. E a situação justificava uma decisão 'no go'? Foi a vez das duas pessoas com maior experiência em montanha tomarem conta da situação, afinal, numa situação potencialmente perigosa, devem ser sempre as pessoas com maior experiência a avaliar a situação, o grupo e a capacidade do grupo ultrapassar o obstáculo. O 'Tou Perdido' e o 'FTomar' foram unânimes - não havia condições para prosseguir. Assim, o grupo decidiu abandonar a ascensão, deixando para trás a cache mais aguardada do acampamento (pelo menos para mim) e 4 elementos que decidiram por sua conta e risco prosseguir a ascensão só até à Lagoa dos Cântaros.


Para mim, foi o adiar de um objectivo. Eu sei que vou voltar a atacar aquela cache e que vou fazer a ascensão do Cântaro Gordo. Quando, não sei. Mas confesso que foi difícil, muito difícil tomar a decisão (apesar de eu saber que era a acertada, até porque não tinha levado calças para neve...). Virar as costas ao caminho e iniciar a descida, agarrado ao PMR para aferir se estava tudo ok com o grupo que continuou a subir não foi fácil, não foi nada fácil. Mas, neste momento, enquanto escrevo este post, eu sei que não foi um abandono final - eu vou voltar a tentar a ascensão. E vou conseguir fazer a cache e o cume do Cântaro Gordo.