Crampons e gelo
“Não me queres vender as tuas botas?”. Confesso que estava à espera de (quase)
tudo, menos desta pergunta do meu guia, enquanto me apertava os crampons à entrada do Perito Moreno. Acho que, de certa maneira, ele apercebeu-se que as botas eram claramente mais especializadas que a pessoa que as calçava…
Era a primeira vez que calçava crampons. Tínhamos que o fazer, para poder entrar no glaciar e caminhar sobre o gelo- Era a maneira de nos abrir um novo Mundo, feito de branco em diversos tons de azul, vales escarpados e montanhas íngremes – não fazia ideia que um glaciar era assim tão acidentado!
Andar com crampons exige habituação. Exige que nos lembremos de que o truque é cravar bem os ‘pregos’ no gelo, bater com o pé com força para garantir que ficamos agarrados. Obriga que nos lembremos também que, assim, o pé fica menos móvel, que a nossa passada tem que ser mais vertical. E, depois, os pequenos truques – descer apoiado mais joelhos do que nos calcanhares ou tornozelos, manter o pé direito para garantir o máximo de apoio (para a frente, os crampons têm 8 pregos, mas, de lado,
corremos o risco de nos torcermos sob o efeito do nosso peso e, lá vai um ligamento do pé…), acreditar que não vamos escorregar.
Não deu para brincar como os nossos guias, mas, para mim, foi uma excelente introdução – e, para o final, acho que a pessoa dentro das botas já se aproximava um pouco mais do nível delas…
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