As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

domingo, dezembro 13, 2009

Um susto

De repente, o Ricardo caiu para a frente, de gatas, a arfar pesadamente. Ajoelhei-me rapidamente ao lado dele, para o ajudar. Com um gesto, pediu-me um telefone. Depois ouviu-o a dizer entre os espasmos “112”. Agarrei no telefone e marquei o número. Ao longe, a Ursa assistia a tudo, impassível.


9h00! Porra, ainda estou a sair das bombas! Mais cinco minutos e estou no Centro de Reabilitação de Alcoitão… atrasado! Certo… Lá estão o Ricardo e o Nuno, os meus companheiros do Atlas, de Setembro. Entramos no carro do Ricardo e arrancamos. Direcção: Cabo da Roca, para uma caminhada de 12 kms, ao longo das falésias.


Céu azul, temperatura fresca, mas não demasiado. O dia prometia. Especialmente depois de uma semana inteira fechado dentro de um centro de formação – lindo e fabuloso, sem dúvida, mas, ainda assim, uma casa. Liguei o GPS, procurei a track que tinha baixado do GPSies para o meu Garmin na noite anterior e fizémo-nos ao caminho. Andámos umas centenas de metros na estrada e, depois, virámos à esquerda, percorrendo um pequeno caminho que nos levou até ao topo da falésia, pelo meio da vegetação. A paisagem era de cortar a respiração – o mar de um azul forte, entrecortado aqui e ali pelo branco das grandes vagas junto à costa, a contrastar com os tons de castanho e verde da terra, e o pontilhado do casario. E com a grande Ursa mesmo à nossa frente, um colosso no meio daquela visão. Magnífica!


Contornámos a Praia da Ursa pelo meio da falésia, e, depois, começámos a descida pelo vale do ribeiro que lá se encontra, para subirmos a encosta do outro lado e continuarmos em direcção à Adraga. Subitamente, o Ricardo (o Leite, não eu) parou. “Epá que chatice! Estou com uma alergia!”. Arregaçou a manga – grandes borbulhas começavam a formar-se no antebraço. “É uma reacção alimentar. Nunca descobri do que que é. Deve ter sido do travesseiro de há pouco. Estou com um calor”. Decidimos esperar para ver se podíamos continuar. “Estás melhor?” perguntou o Nuno. “Nem por isso” – nessa altura, as borbulhas do antebraço esquerdo já eram uma grande erupção, e começavam a aparecer-lhe mais na barriga e na testa. Escolhi o melhor caminho para sairmos dali “Subimos a direito e lá em cima temos um caminho grande que dá para carros e leva à estrada” e trepámos até lá acima. “A partir daqui, temos a situação controlada” pensei... Mas o Ricardo não parecia sentir exactamente a mesma coisa. Lançou-se ao chão, derreado do esforço da subida e o Nuno foi buscar o carro ao Cabo da Roca, enquanto eu fiquei com o Ricardo.


De repente, o Ricardo caiu para a frente, de gatas, a arfar pesadamente. Ajoelhei-me rapidamente ao lado dele, para o ajudar. Com um gesto, pediu-me um telefone. Depois ouviu-o a dizer entre os espasmos “112”. Agarrei no telefone e marquei o número. Ao longe, a Ursa assistia a tudo, impassível. Em um minuto liguei ao 112, fizeram a triagem telefónica e mandaram a ambulância. As erupções do Ricardo tinham-se tornado gigantescas! A mão esquerda do Ricardo estava branca, porque o inchaço no pulso não deixava passar muito sangue para a irrigar!


Mas, aos poucos, a respiração começou a tornar-se regular, e as erupções deixaram de alastrar. O Ricardo conseguiu recomeçar a falar – devagarinho, mas coerentemente. E a ambulância chegou, com o Nuno, que ficou no entroncamento, a garantir a direcção correcta. Ajudei o Ricardo a levantar-se e assim que ele entrou na ambulância, ficámos mais tranquilos. Ele foi assistido logo ali. E ficou bem. E ficámos só com a memória de um grande susto!