Ainda a correr
Todos os dias de manhã (ou quase todos os dias, na realidade), quando saio de casa de carro, cruzo-me a caminho da auto-estrada, quase sempre com a mesma pessoa. Todos os dias, por volta das 7h20, vejo o mesmo senhor, de idade bastante respeitável (ele não terá menos de 75, mas apostaria até que deve andar por volta dos 80 anos). Vai de sapatilhas, calções curtos e t-shirt de mangas cavas. A correr. Este senhor, todos os dias (e já o vi nos dias de 20 e tal graus às 7 da manhã, bem como sob uma chuva torrencial de inverno, mas aí com um gorro vermelho ou azul), com 80 anos, faz a sua corrida matinal. Vejo-o sempre, mais ou menos vermelho e afogueado, mais ou menos depressa, corre. Vai sempre pelo passeio ou pela berma da estrada (onde não há passeio), preocupado a fazer sinal aos carros para se desviarem, pois sabe (e com razão) que um atropelamento lhe custará, se não a vida, a capacidade de mobilidade, mas corre.
Sinto que aquele senhor é uma homenagem a toda essa força que, passados uns tempos de corrida, se apodera de cada um de nós e nos compele a regularmente dar aquelas passadas rápidas, sentir a respiração regular, o sangue a andar mais depressa nas veias, o olhar a fixar-se entre o perto do passo e a distância do que nos espera e a mente na nossa meta. E, por vezes, quando olho para ele, sinto que gostava de me reconhecer daqui a muitos anos.
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