Dia 4
Este foi, possivelmente, o dia mais duro da expedição. Às 6h15 iniciávamos a caminhada, que iria durar 9 horas, e levar-nos dos 2300 metros de altitude, a mais de 3500m, para depois descermos e voltarmos a subir 300m verticais até ao refúgio do Toubkal, a 3200m. Ou seja, íamos trepar 1500 metros verticais, o equivalente a... 1 Serra do Gerês!
Às 6h15, no refúgio onde tínhamos passado a noite, o ar era frio. Pela primeira vez, tive que vestir as luvas e o gorro, e preparar-me para o frio. E para uma subida que, à distância, metia respeito. O caminho começou... bonito, com um caminho que saltitava entre pedras e margens de um rio, onde nos esforçavamos por não meter os pés. O ponto alto vislumbou-se após 1 hora de caminho - uma gigantesca queda de água, de mais de 30 metros de altura, forte e bela, à nossa direita. Deslumbrante! Aproveitámos a desculpa para tirar fotografias, beber água e recuperar o fôlego. A subida foi uma constante, num caminho mais ou menos pedregoso, mais ou menos difícil, mas sempre a subir fortemente, em ziguezague, com um vento forte, de um frio cortante como companhia. Se os nossos corpos estavam quentes da subida, a nossa pele sentia o frio do ar em cada ponto exposto pelos nossos polares. Não sei como o Nuno aguentava sem luvas (tinha-as deixado na mochila que seguia nas mulas), e ele provavelmente também não, porque improvisou umas com o boné e um lenço que o Ricardo não estava a utilizar.
Após muito subir no frio, houve um momento de aclamação esperançosa silenciosa - o momento em que nos vimos a cruzar a linha que o Sol desenhava nos recortes da montanha, levando-nos para a sua luz directa. A subida continuava, mas ao menos já sentíamos o Sol ainda frio a acariciar-nos numa esperança que o tempo trouxesse o calor - e acalmasse o frio. Houve um momento, em que deixámos a protecção do vale e começámos a cruzar o topo do contraforte, em que o vento era tão forte que me senti a ser arrastado para o lado, procurando manter o equilíbrio. Mas cedo cruzámos a cumeeira e ficámos na protecção do outro lado. E o que o Mohammed nos apontou deixou-nos sem fôlego. No outro lado do vale que se abria à nossa frente, estendia-se uma montanha enorme, abrupta e forte. Lá ao fundo, à nossa frente, a 3000m de altitude, via-se uma cascalheira e, lá desenhado, com umas pequenas figuras a percorrê-lo em diversos níveis, adivinhava-se um estreito, íngreme e pedregoso caminho que ziguezagueava pelas alturas, levando-nos até ao topo. Foram uns segundos de antevisão alucinantes, até que o Mohammed nos interrompeu e levou a re-iniciar o caminho.
Como é que se sobe um monstro daqueles? Devagarinho. Com calma. Força. Não pensando. Respirando. E, sobretudo, andando. Senti-me bem na subida. Sem qualquer dos problemas do dia anterior. E, no final da subida (quanto tempo foi? 1h30? 2h? Mais? Provavelmente!), soube que fisicamente estava pronto para o Toubkal. E respirei fundo, no topo do colo que cruzámos lá bem no topo, a mais de 3500m - estava feliz!
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