As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

sábado, abril 27, 2013

O fim do Mundo


San Pedro de Atacama é uma pequena cidade... no meio do nada! É a cidade central do deserto do Atacama, no Chile, considerado o mais árido do Mundo - na zona da cidade, chove apenas uma vez por ano (se bem que, e ao que parece, este ano, tal foi torrencial), ainda assim bem melhor que noutras áreas do deserto, onde se estima que não chova há centenas de anos!

É uma cidade única, com uma forte sensação de fim do Mundo - se bem que não nos devamos iludir, pois, apesar do seu isolamento e de ter apenas 2000 habitantes, tem um número razoável de turistas que a buscam, muitos pelas maravilhas geológicas que a rodeiam (já lá vamos, noutro artigo). Mas a aridez da paisagem que a rodeia infiltra-se pela cidade, pelas casas de adobe, pela escassez de água (apesar de existir alguma, visto esta cidade ser um pequeno oásis), pelas ruas de terra, o Sol forte que a domina, a pele dos visitantes, os olhos das crianças. Tudo transparece uma vida árdua, rija, de luta contra a aridez, o calor excessivo de dia e o frio gelado de noite (literalmente gelado, uma vez que as temperaturas facilmente ficam abaixo de zero), a falta de perspectivas para lá do turismo. E, depois, há os pequenos pormenores que acentuam a sensação de isolamento, o "isto só mesmo aqui", como os comerciantes a venderem folhas de coca, os lamas que deambuleiam pelas estradas, o tecto da igreja formado por troncos de cactos e a proibição de dançar na cidade! Sobre este último aspecto, deixem-me que vos diga que o caso é tão sério que há mesmo locais onde, no Sábado à noite, é possível ir dançar em festas clandestinas - nomeadamente, o matadouro local!

E, apesar de tudo, do seu deserto, do seu isolamento, esta cidade, tem qualquer que atrai, que não nos deixa sair de lá sem a certeza que nos vamos lembrar dela, do deserto, dos Andes a dominarem a paisagem, do seu cheiro, da forma como nos toca a pele. Não sei se vou lá voltar - mas sei que não a vou esquecer.