Não aconteceu, mas podia ter acontecido
- Bom dia, rapaz. O que é que está aqui a fazer?
- Rapaz? Obrigado senhor bombeiro, mas sabe há quanto tempo é que não me chamam isso? Não reparou na pança e nos cabelos brancos?
- Desculpe. É que sou um pouco miope. Mas reparei que tem o pelo malhado e grandes bigodes. E orelhas pontiagudas. O senhor é um extra-terrestre.
- Mais ou menos. Não vale muito a pena falarmos sobre isso. Digamos que estou em vias de extinção. Mas já estive pior...
- Ainda bem. Folgo em saber. E então... o que é que está a fazer aqui?
- A passear?
- À frente do quartel dos bombeiros? Para trás e para a frente?
- É um lugar aprazível. Há árvores, carros, prédios, asfalto. Está-se bem aqui.
- A sério?
- Sim.
- Mesmo? Acha mesmo que essas tangas colam?
- Não há mal nenhum em tentar.
- Pois, eu acho é que o senhor é outro desses geocachers que andam por aí.
- Já fui. Mas estou enferrujado. A tentar retomar a actividade, sabe?
- Pois, é difícil, não é?
- Estou enferrujado, é só isso. E nem estava a contar fazer isto agora. Mas apareceu a oportunidade agora, antes de uma reunião, e olhe... Arejei um pouquinho!
- Bom, esteja lá à vontade, e tenha sorte em encontrar a miúda. Só não fique aqui à frente do portão se ouvir a sirene. Um dos nossos carros pode passá-lo assim a ferro...
- Estilo desenho animado?
- Pior. E depois lá fica outra vez a sua espécie em vias de extinção.
- Pois. Não queremos isso. Obrigado! Olhe, por acaso não tem um lápis do Ikea que me possa emprestar?
- Um lápis do Ikea?
- É que se tiver sorte posso precisar dele. E esqueci-me (lá está não estava a contar vir aqui). Bom, deixe estar. Obrigado e boa tarde!
- Boa tarde!
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