Parque Natural do Alvão, 19 e 20 Jan 08
“Estou bem! Estou bem!” exclamei para o miúdo que já vinha a correr na minha direcção, enquanto tentava sair do buraco onde tinha a perna direita enterrada até à cintura…
O dia tinha amanhecido nublado em Vila Real. “Uma típica manhã transmontana”, pensei, enquanto me interrogava como estaria o tempo lá em cima na montanha. Tinha feito a viagem na noite anterior, saindo de Torres Vedras, onde tinha estado numa reunião, para Vila Real. O motivo? Bom, na realidade, eram dois: por um lado, participar no fim de semanas de corridas de orientação do Campeonato Nacional, que estava agendado para esse fim-de-semana, nas encostas do Parque Natural do Alvão; por outro, encontrar a minha 400ª cache em Trás-os-Montes, a terra da minha Avó, e um dos locais onde sinto as minhas raízes mais profundas!
A prova do primeiro dia estava marcada para as 12h30, no mapa de Muas. Meti-me no carro, liguei a Gertrudes (o meu fiel Garmin para navegação automóvel) e comecei a subir a serra. Imediatamente a temperatura começou a descer, cumprindo o rácio de -1º por cada 180m verticais mas, confesso que, para isso, já estava preparado. Bastava-me apertar o meu fato do Challengers (já agora, estes fatos são realmente espantosos, frescos no Verão, quentes no Inverno quando os fechamos até cima, com uma resistência até mais não, impermeáveis,…). Agora, para o que não estava à espera era do nevoeiro, absolutamente cerrado a partir dos 700 metros – e a prova desenrolou-se toda ela acima dos 900! Não se via um palmo – ou melhor, 20 metros à frente! O que também não se via era neve – era um dos meus desejos escondidos, fazer uma prova de orientação com neve, mas parece que vai ter que ficar para a próxima!
Parti, e, se me adaptei realmente bem ao frio, percebi que o nevoeiro podia ser mesmo um problema, mas que ainda teria um maior – o terreno! Nunca tinha feito orientação a uma altitude tão elevada e num terreno tão rochoso. Ainda por cima, sem grandes referências visuais, demorei a perceber exactamente o que deveria fazer. O truque seria navegar com azimutes apertados, controlados ao milímetro e em que a velocidade não seria o ponto primordial – a navegação era o busílis. Agora, navegar com azimutes controladinhos num ambiente com penedos de 20 metros ou mais a surgir de todos os lados… Complicado, mesmo muito complicado! Era, por outro lado, de extrema importância, a navegação ‘de fora para dentro’ como me tinham dito no Apoio Técnico do CPOC – basicamente, esta técnica consiste em encontrar um ponto de referência no terreno (um marco geodésico, uma linha de alta tensão, …) e procurar referenciá-lo no mapa. Claro que, sem nevoeiro é muito mais fácil!
Apesar de tudo, fui fazendo os pontos, bem mais devagar do que é habitual, em virtude do terreno (ainda por cima, as rochas estavam escorregadias da humidade do nevoeiro) e das dificuldades de orientação e, sobretudo, fui gozando da paisagem megalítica absolutamente fabulosa. Num dos azimutes mais longos, e depois de contornar um grande penedo, dei por mim perdido, sem ter a certeza se tinha recuperado o azimute a 100%. Encontrei um miúdo (para aí com 13) que me perguntou pelo mesmo ponto que estava à procura. Continuou cada um para seu lado e… de repente senti a minha perna direita a afundar-se, a minha perna esquerda flectiu toda ao nível do joelho e só parei quando o meu pé direito encontrou chão, cerca de 1 metro abaixo do sítio onde pensava que ele estava! “Estou bem! Estou bem!” exclamei para o miúdo que já vinha a correr na minha direcção, enquanto tentava sair do buraco onde tinha a perna direita enterrada até à cintura, e percebi que aquele terreno afinal era ainda mais traiçoeiro do que pensava – torrentes de água deviam cortar o chão fofo na altura das chuvas mais fortes ou do degelo, formando sulcos mais ou menos profundos que se escondiam sob a vegetação rasteira que nos dava pelos calcanhares! A partir daí perdi a concentração e sinto que perdi bastante tempo – ainda para mais quando parei para ajudar uma rapariga do meu clube que estava a coxear em cima de um penedo… mas ela não queria auxílio e preferiu acabar a prova, mesmo ao pé coxinho!!!
O segundo dia de provas (um pouco mais acima na montanha, num mapa perto da Barragem Cimeira) não foi muito diverso, mas com uma diferença muito importante. Depois dos pontos iniciais num planalto (daqueles cobertos de vegetação rasteira, adaptada a sobreviver em condições de montanha, com temperaturas negativas quase todos os dias, que escondia os tais sulcos de profundas linhas de água) algo pantanoso, a prova desenrolava-se numa floresta pelo meio de penedos, mas acima do nevoeiro!! Foi espectacular!
Pelo meio, e depois das provas, ainda tive tempo de me lançar à conquista da minha 400ª cache. Para isso, ainda tinha que encontrar duas caches pelo meio, a ‘Travassos’, na aldeia do mesmo nome perdida na serra e que, pelo nome, me recordou imediatamente o meu bom amigo Diogo, e a ‘Vamos ao Teatro’, uma multi-cache urbana, no meio de Vila Real, e que deu origem ao tenebroso espectáculo de um individuo (eu) a utilizar um frontal num parque, no meio da noite escura, em pleno centro da cidade…
Tentei fazer a 400ª na ‘Ermelo’s Wonder’, uma cache ao pé das cataratas das Fisgas de Ermelo – um daqueles locais de cortar a respiração, em que as águas se precipitam por dezenas de metros num autêntico velo branco que rasga as encostas rochosas da montanha! E um daqueles locais que não acreditamos como é que é possível que não esteja melhor explorado turisticamente… Depois de evitar as cabras que por ali estavam no dia anterior (no Domingo, nem sinal delas), ainda estive lá por cima, em redor do ponto zero, a evitar arbustos e a remover calhaus mas… nada! DNF! Bom, era por isso, tempo de me encaminhar para a próxima na lista, a ‘Wolftrap’, num antigo fojo para lobos. E o que é um fojo para lobos? É uma armadilha. Antigamente, as populações desta área podiam temer realmente as incursões dos lobos das serras, sobre os rebanhos e, por isso, construíram esta enorme armadilha em pedra, que foi construída de forma a que um lobo pudesse entrar (em busca de uma ovelha que era lá deixada viva como isco), mas não conseguisse sair – depois, os homens da aldeia iam lá e matavam facilmente o lobo que não podia fugir! Agora, que os lobos já não representam uma ameaça (ainda os haverá por ali?), é apenas uma atracção semi-abandonada, que obriga a uma caminhada de mais de 1,5 kms pelo meio de uma estrada florestal (e com algum corta-mato pelo meio, afinal, sou eu, portanto…) para lá chegar, no meio dos montes áridos – absolutamente magnífico! Uma óptima escolha para 400º!
E, depois, já na vinda, a despedida de Trás-os-Montes, fazendo a cache Mira-Douro, a mirar o Douro, do alto de um monte ao pé de Santa Marta de Penaguião – a despedida de um fim-de-semana em grande!
O dia tinha amanhecido nublado em Vila Real. “Uma típica manhã transmontana”, pensei, enquanto me interrogava como estaria o tempo lá em cima na montanha. Tinha feito a viagem na noite anterior, saindo de Torres Vedras, onde tinha estado numa reunião, para Vila Real. O motivo? Bom, na realidade, eram dois: por um lado, participar no fim de semanas de corridas de orientação do Campeonato Nacional, que estava agendado para esse fim-de-semana, nas encostas do Parque Natural do Alvão; por outro, encontrar a minha 400ª cache em Trás-os-Montes, a terra da minha Avó, e um dos locais onde sinto as minhas raízes mais profundas!
A prova do primeiro dia estava marcada para as 12h30, no mapa de Muas. Meti-me no carro, liguei a Gertrudes (o meu fiel Garmin para navegação automóvel) e comecei a subir a serra. Imediatamente a temperatura começou a descer, cumprindo o rácio de -1º por cada 180m verticais mas, confesso que, para isso, já estava preparado. Bastava-me apertar o meu fato do Challengers (já agora, estes fatos são realmente espantosos, frescos no Verão, quentes no Inverno quando os fechamos até cima, com uma resistência até mais não, impermeáveis,…). Agora, para o que não estava à espera era do nevoeiro, absolutamente cerrado a partir dos 700 metros – e a prova desenrolou-se toda ela acima dos 900! Não se via um palmo – ou melhor, 20 metros à frente! O que também não se via era neve – era um dos meus desejos escondidos, fazer uma prova de orientação com neve, mas parece que vai ter que ficar para a próxima!
Parti, e, se me adaptei realmente bem ao frio, percebi que o nevoeiro podia ser mesmo um problema, mas que ainda teria um maior – o terreno! Nunca tinha feito orientação a uma altitude tão elevada e num terreno tão rochoso. Ainda por cima, sem grandes referências visuais, demorei a perceber exactamente o que deveria fazer. O truque seria navegar com azimutes apertados, controlados ao milímetro e em que a velocidade não seria o ponto primordial – a navegação era o busílis. Agora, navegar com azimutes controladinhos num ambiente com penedos de 20 metros ou mais a surgir de todos os lados… Complicado, mesmo muito complicado! Era, por outro lado, de extrema importância, a navegação ‘de fora para dentro’ como me tinham dito no Apoio Técnico do CPOC – basicamente, esta técnica consiste em encontrar um ponto de referência no terreno (um marco geodésico, uma linha de alta tensão, …) e procurar referenciá-lo no mapa. Claro que, sem nevoeiro é muito mais fácil!
Apesar de tudo, fui fazendo os pontos, bem mais devagar do que é habitual, em virtude do terreno (ainda por cima, as rochas estavam escorregadias da humidade do nevoeiro) e das dificuldades de orientação e, sobretudo, fui gozando da paisagem megalítica absolutamente fabulosa. Num dos azimutes mais longos, e depois de contornar um grande penedo, dei por mim perdido, sem ter a certeza se tinha recuperado o azimute a 100%. Encontrei um miúdo (para aí com 13) que me perguntou pelo mesmo ponto que estava à procura. Continuou cada um para seu lado e… de repente senti a minha perna direita a afundar-se, a minha perna esquerda flectiu toda ao nível do joelho e só parei quando o meu pé direito encontrou chão, cerca de 1 metro abaixo do sítio onde pensava que ele estava! “Estou bem! Estou bem!” exclamei para o miúdo que já vinha a correr na minha direcção, enquanto tentava sair do buraco onde tinha a perna direita enterrada até à cintura, e percebi que aquele terreno afinal era ainda mais traiçoeiro do que pensava – torrentes de água deviam cortar o chão fofo na altura das chuvas mais fortes ou do degelo, formando sulcos mais ou menos profundos que se escondiam sob a vegetação rasteira que nos dava pelos calcanhares! A partir daí perdi a concentração e sinto que perdi bastante tempo – ainda para mais quando parei para ajudar uma rapariga do meu clube que estava a coxear em cima de um penedo… mas ela não queria auxílio e preferiu acabar a prova, mesmo ao pé coxinho!!!
O segundo dia de provas (um pouco mais acima na montanha, num mapa perto da Barragem Cimeira) não foi muito diverso, mas com uma diferença muito importante. Depois dos pontos iniciais num planalto (daqueles cobertos de vegetação rasteira, adaptada a sobreviver em condições de montanha, com temperaturas negativas quase todos os dias, que escondia os tais sulcos de profundas linhas de água) algo pantanoso, a prova desenrolava-se numa floresta pelo meio de penedos, mas acima do nevoeiro!! Foi espectacular!
Pelo meio, e depois das provas, ainda tive tempo de me lançar à conquista da minha 400ª cache. Para isso, ainda tinha que encontrar duas caches pelo meio, a ‘Travassos’, na aldeia do mesmo nome perdida na serra e que, pelo nome, me recordou imediatamente o meu bom amigo Diogo, e a ‘Vamos ao Teatro’, uma multi-cache urbana, no meio de Vila Real, e que deu origem ao tenebroso espectáculo de um individuo (eu) a utilizar um frontal num parque, no meio da noite escura, em pleno centro da cidade…
Tentei fazer a 400ª na ‘Ermelo’s Wonder’, uma cache ao pé das cataratas das Fisgas de Ermelo – um daqueles locais de cortar a respiração, em que as águas se precipitam por dezenas de metros num autêntico velo branco que rasga as encostas rochosas da montanha! E um daqueles locais que não acreditamos como é que é possível que não esteja melhor explorado turisticamente… Depois de evitar as cabras que por ali estavam no dia anterior (no Domingo, nem sinal delas), ainda estive lá por cima, em redor do ponto zero, a evitar arbustos e a remover calhaus mas… nada! DNF! Bom, era por isso, tempo de me encaminhar para a próxima na lista, a ‘Wolftrap’, num antigo fojo para lobos. E o que é um fojo para lobos? É uma armadilha. Antigamente, as populações desta área podiam temer realmente as incursões dos lobos das serras, sobre os rebanhos e, por isso, construíram esta enorme armadilha em pedra, que foi construída de forma a que um lobo pudesse entrar (em busca de uma ovelha que era lá deixada viva como isco), mas não conseguisse sair – depois, os homens da aldeia iam lá e matavam facilmente o lobo que não podia fugir! Agora, que os lobos já não representam uma ameaça (ainda os haverá por ali?), é apenas uma atracção semi-abandonada, que obriga a uma caminhada de mais de 1,5 kms pelo meio de uma estrada florestal (e com algum corta-mato pelo meio, afinal, sou eu, portanto…) para lá chegar, no meio dos montes áridos – absolutamente magnífico! Uma óptima escolha para 400º!
E, depois, já na vinda, a despedida de Trás-os-Montes, fazendo a cache Mira-Douro, a mirar o Douro, do alto de um monte ao pé de Santa Marta de Penaguião – a despedida de um fim-de-semana em grande!
1 Comments:
Este é o meu primeiro comentário nestas fantásticas "crónicas" que encontrei por acidente, parabéns pela excelente descrição, são este tipo de coisas que me faz gostar do geocaching.
Obrigado pela "preferência" qualquer das caches "400" era minha, é uma honra.
Um enorme abraço!
Pedro J.(zoom_bee)
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