Peixes
Parei. Olhei para o largo, percorrendo com os olhos o empedrado. Deserto. Não estava ali ninguém, naquele entardecer de inverno. Olhei para baixo. O meu GPS. A setinha era clara. Inequívoca. Indicava, sem o mais pequeno pingo de dúvida, onde estava a cache. Era bom poder confiar daquela maneira em algo. Ele nunca o enganava. Um dos grandes feitos da Humanidade, pensei!
Percorri com o olhar o caminho que o GPS me indicava. Um lago. Grande. Com um caminho de pedras. Grandes. A atravessarem o lago. Coloquei um pé à frente do outro e, assim, iniciei a caminhada que me levaria até à cache. O lago tinha água. Escura. Mal se via o que se passava abaixo da superfície. Mas, aqui e ali, dava para distinguir alguns peixes. Cor de laranja. De lago. Que seres idiotas, pensei, sempre a andarem de um lado para o outro nas mesmas águas. Devem pensar que a sua Vida é o máximo. Mas não fazem mais do que estar aqui. Enfim...
A cache não foi difícil de descobrir. Uma micro. Que estranho. O chão estava molhado ali. Apesar do dia de Sol. Acontece. Chlap! O som de uma onda veio até mim, vinda do lago - isso não faz sentido! Um laguinho deste tamanho não pode formar ondas com tamanho para um som destes. E, realmente, olhando, já não se via onda. Paciência. Uma pedra, um ramo, pode acontecer. Virei-me outra vez para a cache. Dediquei-lhe a minha atenção. Agarrei o logbook. Uma escama. Laranja. Aqui? Que giro! Tão fora de água? Será que o último geocacher que aqui esteve almoçou peixe assado? Do lago? Um daqueles peixes irrelevantes e idiotas? E que aposto que sabem mal? Que parvoíce! Mas, interessante, é grande, esta escama - tem o tamanho, para aí, de quinze escamas normais. Se calhar, não é uma escama. Não interessa! Agarrei no lápis para o lo...
Chlap! Ouvi o som da onda de novo. Desta vez, senti a água a bater na sola do meu sapato e os pés molhados. Senti uma corrente fria a percorrer-me as costas. Tremi, com o suor gelado que me trespassou. Porque soube que algo estava errado. Porque num instante vi o Mundo a girar ao contrário. Virei-me. Para ver aqueles grandes olhos a olharem para mim, à frente de um enorme corpo de peixe escamado de laranja, atrás de uma boca enorme de dentes afiados. Uma boca enorme aberta. A saltar para mim. E aqueles olhos diziam que sim, ele estava certo. A cache tinha sido um bom isco. Eu ia ser a pesca do dia...
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