As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

domingo, março 16, 2008

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Foi o número de quilómetros que corri esta manhã. Finalmente, fiz a Meia-Maratona de Lisboa! Um dos meus objectivos pessoais para 2008 está já cumprido. Check!

Acordei cedo (às 7h45) e fui algo apreensivo para o Pragal, para a Praça da Portagem, o local de partida que já cruzei tantas vezes de carro. Pensava no meu joelho esquerdo (que de vez em quando me lembra que já passou por muito), na minha costela do lado esquerdo (que ainda dói quando me mexo muito, me apoio sobre ela ou tento fazer exercício com o braço esquerdo) e na minha falta de treino nas últimas duas semanas (desde a minha lesão no dia 4, que só corri na última sexta-feira, um rápido shake down de 4,5 kms para me assegurar que estava em condições). E confiava no meu treino anterior, quer nos quilómetros que corri antes desta prova, quer no treino específico de ginásio que continuo a seguir com vista a dotar o joelho de mais músculo que o proteja melhor. Além do mais, sempre que olhava para o céu, sorria – o tempo, nublado e fresco sem estar frio, era perfeito para correr.

Parti, e no meio da salganhada da multidão (30000 pessoas que partem todas ao mesmo tempo), a emoção de passar a Ponte 25 de Abril (que sempre povoou o meu imaginário, desde criança) a pé pela primeira vez. Não era o único a senti-lo – havia várias pessoas, concorrentes, que paravam e tiravam uma fotografia sua a meio da ponte. Foi assim que passei o primeiro quilómetro, a 5m38s – um tempo rápido para o que tinha estabelecido como objectivo secundário (o primeiro era acabar, e o segundo era não fazer má figura, fazendo um tempo abaixo de 2h30m!). Mas estava a sentir-me bem, e confiante, e fui utilizando sempre o tempo nos quilómetros parcelares como motivador (ao passar o quilometro 1 marquei como objectivo passar no 2 aos 12 min e assim por diante) – funcionou extremamente bem!

O meu primeiro problema chegou já depois de passar a ponte – nas descida para Alcântara, o meu dorsal (que tinha colado com a fita bi-adesiva extremamente forte que uso para as provas de BTT) voou! A minha transpiração tinha feito com que a fita se soltasse. Um momento de frisson no meio dos outros concorrentes (parei e andei contra a maré de 30000 pessoas durante uns metros…) e ele já estava novamente na minha mão. Colei-o um pouco ao lado, no meu flanco direito e ele aguentou-se por lá o resto da prova.

Há medida que os quilómetros passavam, vivia a autêntica festa que é esta prova. Pessoas no passeio a dizerem-nos adeus e a incentivarem-nos (incluindo o pessoal que estava nos after hours da 24 de Julho), bandas (sim, bandas!!) a tocarem e a cantarem para nos dar força (e tínhamos de tudo, desde a filarmónica dos bombeiros, até rock, passando por house com tambores ao vivo, axé e flamenco!), e o autêntico espectáculo de alguns corredores – desde um que dizia nas costas que estava a “fugir da ministra”, um frade franciscano que com a sua toga e cruz na mão abençoava quem por ele passava, grupos de alemães e dinamarqueses de meia idade e um grupo de espanhóis que elucidativamente afirmava que “komemos + que korremos”! A passagem pelo Rossio e Praça do Comércio, com centenas de pessoas a ver-nos passar e os turistas incrédulos a fotografarem-nos, foi, sem dúvida, o ponto alto!

Continuei sem problemas, passando pelo Lux e por Santa Apolónia e dando a volta mais à frente. Foi o local onde pensei “mais de metade já está! A partir de agora, não tens que vencer nada que não tenhas já corrido”. É claro que estava a ignorar o facto de que as minhas pernas já tinham 11 kms em cima, mas… engana-me que eu gosto! Os abastecimentos eram impecáveis, e eu confesso que me servi sempre deles (alternando sempre entre uns goles de água ou de Powerade – bendito Tiago que é patrocinador desta prova!), mantendo sempre a minha hidratação em alta – teoricamente, era importante para manter os níveis de resistência no topo, portanto…

Os problemas só começaram depois da segunda passagem pelo Terreiro do Paço. Claro que estava cansado, mas o fôlego estava, apesar de tudo, lá. A costela já me tinha doído duas ou três vezes, mas nada de preocupante. E as dores que inicialmente tinha sentido nos quadrícepes tinham desaparecido com os quilómetros – era mesmo o ‘pó’ de não ter feito exercício condigno nos últimos tempos a desaparecer. O problema estava a ser o joelho… direito! Enquanto o esquerdo se mantinha ‘nos trinques’ (também com a ajuda do joelho elástico que costumo utilizar), o direito, não me doendo propriamente, começou a acusar o peso das várias e repetidas percussões que estava a levar há largas dezenas de minutos. Afinal, já tinha corrido 15 quilómetros em cima dele e ele dava sinais de si. Por isso, ao passar pelo quilómetro 16, em frente ao prédio onde a Joana trabalhou durante vários anos… abrandei. Andei durante 400 metros, para poupar o joelho (e aproveitei também para recuperar fôlego). Foi estranho ter parado de correr porque o meu corpo já estava tão habituado ao movimento da corrida que, durante uns segundos, fiquei tonto, senti-me… a enjoar, a colocar pé em terra firme depois de vários dias no mar! De seguida, voltei a correr e, apesar de ainda ter voltado a andar mais duas vezes (por distâncias menores), continuei a sentir-me bem (tinha algum receio de parar e não voltar a conseguir correr mas tal revelou-se infundado).

E, foi assim que cheguei ao último quilómetro. Com milhares de pessoas em Belém a dizerem adeus ou a recuperarem da ‘mini’ e eu a sentir-me bem. Confesso que, ter dobrado a última esquina, olhado para a meta de frente com os Jerónimos em fundo, mirado o relógio e perceber que ia fazer um tempo abaixo dos 2h15, e, sobretudo, perceber que ia cumprir o meu primeiro objectivo pessoal do ano, encheram-me de uma alegria difícil de explicar! Meta cortada, objectivo atingido! Em 2h13m! YES!!!

Depois, foi uma rápida sessão de alongamentos às pernas (estoiradas) e uma caminhadazinha de 2 quilómetros até ao carro (tenebrosa, doíam-me mesmo as pernas a cada passada que dava!). Entrei no carro e cumpri os 15 quilómetros até minha casa em 15 minutos…

Neste momento, em que, depois do banho quente e do creme hidratante (daqueles bons, de Vasenol) escrevo, no entanto, só consigo pensar que consegui! Era um sonho que já acalentava há bastante tempo, uma prova de superação pessoal – sempre admirei a capacidade de corrida e de sacrifício dos corredores de fundo. E um que pensava que me estava vedado. Porque nunca pensei que voltasse a ter um joelho em condições de suportar uma corrida de tão longa distância em asfalto. Só prova que o trabalho que fiz (e que sempre tiveram o cuidado de respeitar no meu ginásio) para o recuperar ‘pagou’. A contrariedade da costela deitada abaixo (que veridicamente pensei que não me ia permitir correr até ao final de Março) foi também superada – com uma dieta rigorosa de cálcio, descanso e, no final, querer chegar ao fim. Já está! Prova superada!