A Fenda da Calcedónia
Dobrámos mais uma pedra grande e, de repente, a parede surgiu à nossa frente, bloqueando-nos a passagem para o cume, enquanto, no seu centro, estreita, enclausurada por dois portentosos rochedos, víamos a pequena passagem escura. O caminho da fenda começava ali.
Há algumas caches absolutamente míticas em Portugal. Daquelas que os que já lá foram falam sem cessar e outros sonham em ir lá, em experimentar o caminho, tentar procurá-la, encontrá-la. Significam sempre boas proezas contadas entre amigos, rodeados de imperiais, tremoços e gargalhadas, ou histórias que enchem uma noite de inverno recatada, com a família, com inconfidências sussurradas, olhares de admiração a crescerem à volta e sementes de novos sonhos a despontarem na cabeça de quem nos rodeia, um misto de vivência pelas palavras e emoção de quem conta e um abnegado “vou fazer o mesmo”.
Se a “Tou às Aranhas” de que falei no texto em baixo é uma delas, a “Fenda da Calcedónia” é, incontornavelmente, outra. Situa-se no Parque Natural da Peneda-Gerês, num cabeço enorme, de 1000 metros de altitude, uma visão assombrosa, crua, forte, inamovível, na paisagem. E com uma particularidade face a todos os outros cabeços em redor. Uma das vias para chegar ao cume, significa passar por dentro de uma fenda estreita pelo meio do maciço de granito, um autêntico buraco no meio do chão, pontuado por rochedos enormes que é preciso subir, contornar por baixo, trepar, para chegar lá acima, àquela estreita ranhura da qual se desprende alguma claridade, e que nos leva a meio caminho do topo do monte. Uma rota magnífica, da qual se emerge com uma força renovada para fazer os metros que faltam.
Tive a sorte de a fazer no Domingo, 5 de Outubro, com o resto do ‘grupo expedicionário’. Guiados por alguns de nós que já tinham estado (e um muito obrigado bem especial por terem querido repetir a experiência, privando-se de novos desafios), rapidamente, dobrámos mais uma pedra grande e ficámos frente a frente com o maciço granítico do topo do monte, impressionante pelo seu tamanho e, no qual, bem no meio, se abria a passagem para a fenda. Não foi uma progressão fácil, num ambiente semi-iluminado (não cheguei a precisar de ligar o frontal), em que trepávamos rochedos enormes que nos bloqueavam a passagem, erguendo continuamente os pés acima da cintura, umas vezes elevando-os, outras arrastando-os, com as mãos tacteando firmes pontos de apoio, numa fissura estreita, em que as pesadas mochilas com o almoço que carregávamos nos tolhiam os movimentos. Acho que todos nós agradecemos a companhia uns dos outros, a mão sempre pronta a puxar-nos ou a empurrar-nos para a frente, as palavras de ânimo e de aconselhamento. Chegar ao final da fenda, atravessar aquele raio de luz vindo directamente do céu, se foi uma sensação de emersão de novo para o Mundo, foi também uma experiência colectiva, mais um “conseguimos!” do que um “consegui!”. E, também por isso, soube muito bem.
Mas a saída da fenda é apenas meio caminho – faltava ainda trepar mais uns quantos metros entre blocos enormes, umas vezes saltando sobre o vazio de alguns metros, outras admirando o verde do vale lá em baixo, qual paisagem do Google Earth, agarrados a um qualquer apoio, outras testando a aderência das nossas botas (fui o único que levou ténis de montanha, os meus omnipresentes Salomon X-Raid), mas subindo sempre.
Quando chegámos ao topo, e depois de uns minutos de deslumbramento com o local incontornável e magnífico em que estávamos (acreditem, apesar de excelentes, as fotos não fazem jus à paisagem e sensação de “topo do Mundo” que sentíamos), seguiu-se a celebração. Um magnífico almoço, muito partilhado entre todos (fico sempre com a – real – sensação de que levo pouco para a partilha, tenho que tratar disso da próxima), com rissóis, chouriço, queijo e… Vinho do Porto (ah! Grande Silvana!), um momento de pausa e descontracção, de sensação de “estamos aqui todos e isto não podia ser melhor”!
E, claro, a cache!
Há algumas caches absolutamente míticas em Portugal. Daquelas que os que já lá foram falam sem cessar e outros sonham em ir lá, em experimentar o caminho, tentar procurá-la, encontrá-la. Significam sempre boas proezas contadas entre amigos, rodeados de imperiais, tremoços e gargalhadas, ou histórias que enchem uma noite de inverno recatada, com a família, com inconfidências sussurradas, olhares de admiração a crescerem à volta e sementes de novos sonhos a despontarem na cabeça de quem nos rodeia, um misto de vivência pelas palavras e emoção de quem conta e um abnegado “vou fazer o mesmo”.
Se a “Tou às Aranhas” de que falei no texto em baixo é uma delas, a “Fenda da Calcedónia” é, incontornavelmente, outra. Situa-se no Parque Natural da Peneda-Gerês, num cabeço enorme, de 1000 metros de altitude, uma visão assombrosa, crua, forte, inamovível, na paisagem. E com uma particularidade face a todos os outros cabeços em redor. Uma das vias para chegar ao cume, significa passar por dentro de uma fenda estreita pelo meio do maciço de granito, um autêntico buraco no meio do chão, pontuado por rochedos enormes que é preciso subir, contornar por baixo, trepar, para chegar lá acima, àquela estreita ranhura da qual se desprende alguma claridade, e que nos leva a meio caminho do topo do monte. Uma rota magnífica, da qual se emerge com uma força renovada para fazer os metros que faltam.
Tive a sorte de a fazer no Domingo, 5 de Outubro, com o resto do ‘grupo expedicionário’. Guiados por alguns de nós que já tinham estado (e um muito obrigado bem especial por terem querido repetir a experiência, privando-se de novos desafios), rapidamente, dobrámos mais uma pedra grande e ficámos frente a frente com o maciço granítico do topo do monte, impressionante pelo seu tamanho e, no qual, bem no meio, se abria a passagem para a fenda. Não foi uma progressão fácil, num ambiente semi-iluminado (não cheguei a precisar de ligar o frontal), em que trepávamos rochedos enormes que nos bloqueavam a passagem, erguendo continuamente os pés acima da cintura, umas vezes elevando-os, outras arrastando-os, com as mãos tacteando firmes pontos de apoio, numa fissura estreita, em que as pesadas mochilas com o almoço que carregávamos nos tolhiam os movimentos. Acho que todos nós agradecemos a companhia uns dos outros, a mão sempre pronta a puxar-nos ou a empurrar-nos para a frente, as palavras de ânimo e de aconselhamento. Chegar ao final da fenda, atravessar aquele raio de luz vindo directamente do céu, se foi uma sensação de emersão de novo para o Mundo, foi também uma experiência colectiva, mais um “conseguimos!” do que um “consegui!”. E, também por isso, soube muito bem.
Mas a saída da fenda é apenas meio caminho – faltava ainda trepar mais uns quantos metros entre blocos enormes, umas vezes saltando sobre o vazio de alguns metros, outras admirando o verde do vale lá em baixo, qual paisagem do Google Earth, agarrados a um qualquer apoio, outras testando a aderência das nossas botas (fui o único que levou ténis de montanha, os meus omnipresentes Salomon X-Raid), mas subindo sempre.
Quando chegámos ao topo, e depois de uns minutos de deslumbramento com o local incontornável e magnífico em que estávamos (acreditem, apesar de excelentes, as fotos não fazem jus à paisagem e sensação de “topo do Mundo” que sentíamos), seguiu-se a celebração. Um magnífico almoço, muito partilhado entre todos (fico sempre com a – real – sensação de que levo pouco para a partilha, tenho que tratar disso da próxima), com rissóis, chouriço, queijo e… Vinho do Porto (ah! Grande Silvana!), um momento de pausa e descontracção, de sensação de “estamos aqui todos e isto não podia ser melhor”!
E, claro, a cache!
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