As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

segunda-feira, junho 23, 2008

Queda!

Cruzei a pequena ponte e atravessei a sua elevação. A 50 metros, no sopé da última curva do percurso, vi duas pessoas de pé, agachadas sobre uma terceira sentada no chão, a cabeça baixa. A poucos metros, a bicicleta jazia abandonada. Reconheci o acidente, a razão de ela nunca mais aparecer. Pus-me de pé na bicicleta, dei uma pedalada de impulso forte e voei até onde eles estavam.

O dia estava a ser absolutamente impecável. Apesar da ameaça latente de chuva, o passeio pelos lagos da região de Killarney, na Irlanda, estava a revelar-se um excelente dia. Benditas bicicletas que alugámos na cidade, e benditos trilhos irlandeses que nos guiavam sem hesitações pela paisagem rural, por entre abadias abandonadas, mansões senhoriais do século XVIII, cascatas, florestas e lagos, num verdadeiro momento de relax, descontracção e puro prazer. Apesar de menos à vontade do que eu nas bicicletas, os meus companheiros de viagem estavam a safar-se bastante bem naqueles trilhos bem cuidados. Estávamos a fazer uma boa média, o que nos permitia planear contornar os lagos (passando por uma bonita área de floresta e por uma península com uma elegante ponte medieval), sem pôr em causa o momento de apoio à selecção nacional, num pub irlandês, com uma guiness na mão.

Seguíamos agora numa estrada com um pouco mais de relevo do que até aí (tinha sido, quase sempre, um percurso plano), com pequenas elevações a sucederem-se junto à margem do lago, numa estrada larga, bem tratada e com gravilha. Seguíamos os 4 juntos, e a Paula confessou-me que já por duas vezes tinha sentido a roda a derrapar na gravilha. Nem liguei muito e, passados uns instantes, estávamos a parar para tirar mais umas fotos junto ao lago (com a ponte medieval como pano de fundo na outra margem). "Onde é que almoçamos?", "Mais à frente, há uma cabana com um restaurantezinho e, aí, há um espaço próprio para piqueniques" respondi, uma vez que tinha ido antes fazer o reconhecimento desta parte do percurso. Montámo-nos e acelerámos rumo ao objectivo do almoço. Cheguei junto das mesas, desmontei, tirei a mochila a marcar o lugar. Chegaram o Bruno e o Carlos, ficámos ali, a encostar as bicicletas, a preparar tudo para o piquenique. A Paula ainda não tinha chegado. 2 minutos e nada - o percurso era pequeno, provavelmente ficou para trás. Mas o percurso era mesmo pequeno. Senti o cruzar de olhares com o Carlos, há medida que ficávamos preocupados. O Carlos encaminhou-se para trás, a pé. Eu fui buscar a bicicleta e acelerei no mesmo caminho que já tinha percorrido...

Cruzei a pequena ponte e atravessei a sua elevação. A 50 metros, no sopé da última curva do percurso, vi duas pessoas de pé, agachadas sobre uma terceira sentada no chão, a cabeça baixa. A poucos metros, a bicicleta jazia abandonada. Reconheci o acidente, a razão de ela nunca mais aparecer. Pus-me de pé na bicicleta, dei uma pedalada de impulso forte e voei até onde eles estavam. Um simpático casal de meia-idade irlandês (na altura parecia-me irlandês) estava debruçado sobre uma combalida Paula! Não tinha sangue na cara, nem no corpo, respirava, nenhum membro em posição estranha - fiz um exame rápido visual, no espaço de 1 segundo que demorou a saltar da bicicleta. O Carlos chegou. A Paula falava (e em inglês) - enfim, balbuciava qualquer coisa com um esgar de dor. O casal explicava que a tinha encontrado caída no chão. Fiz 2 ou 3 perguntas de rotina à Paula, para avaliar se ela estava lúcida - tudo ok. "Onde é que te dói?", e a Paula mostrou-me as mãos em ferida, "Também não consigo respirar, dói-me tudo. Enrolei-me quando caí", disse, apontando para as marcas no chão, na gravilha em que derrapou. "Não consigo ver bem. Vejo clarões à minha frente" e, nessa altura, é que me apercebi da minha falha tremenda!

A Paula ficou bem. Os clarões que ela via é aquilo que, tipicamente, se designa por "ver estrelas" e é normal quando se tem um acidente violento ou se sofre uma pancada na cabeça - passam com alguns minutos de repouso. Hoje, quase 2 semanas após a queda, a Paula guarda apenas uns arranhões nas mãos (a sarar rapidamente) e no queixo (o único ponto em que bateu com a cabeça), bem como um músculo 'torcido' na zona do peito, que ainda faz com que lhe custe a respirar - e, provavelmente, lhe vai custar a participação em 2 ou 3 espectáculos de dança. Mas, podia ter sido bem pior. Um simples passeio na floresta, descontraído, sem grandes perigos ou motivos de preocupações, poderia ter sido bem sério. Bastava que a Paula não tivesse caído dentro da estrada, mas 2 metros fora dela (já ali ao lado, com pedras a despontarem do chão), ou uns metros à frente, onde assomava aquela árvore. O meu erro estava aí bem à vista - facilitei em termos de segurança. Como membro mais experiente do grupo, devia ter insistido na questão do capacete (que não nos forneceram no local onde alugámos as bicicletas, mas que, diga-se, nós também não pedimos).

Muitas vezes, por simples 'prazer de pedalar de cabelos ou vento' ou simples preguiça ou incúria, há quem não use capacete. Nomeadamente em percursos fáceis, ou de estrada. Erro! O nosso cérebro é a nossa consciência, é quem realmente somos. Não podemos deixar ao acaso a sua protecção (tão fácil, nestes casos). O uso de capacete é essencial sempre que se anda de bicicleta. Ponto! É no alcatrão que se atingem maiores velocidades, é no alcatrão que encontramos carros que muitas vezes não nos respeitam. É em pequenos passeios simples com amigos que vamos mais descontraídos, ou que levamos um grupo inexperiente a passear. Não podemos facilitar nunca! E, compete ao líder do grupo, assegurar que ninguém está a facilitar. Nunca!

P.S- Uma última palavra (que provavelmente eles nunca vão ler) ao pessoal que trabalha na "Dinis Cottage". Foram absolutamente 5 estrelas em todo o apoio que nos deram na altura, fornecendo os meios que tinham e permitindo assim os primeiros socorros. Para eles, o meu grande agradecimento.

P.S.2- O regresso a Killarney já não foi possível por trilhos de bicicleta. Mas, foi feita sui genericamente, por um barco de pescadores que nos levou até perto da vila. Nunca tinha visto uma 'chata' a transportar bicicletas e pessoas qual ferryboat! Ah, e foi também a mais agradável evacuação de um acidentado que já vi - num barquinho a romanticamente cruzar as águas de um lago património mundial da UNESCO!

domingo, junho 01, 2008

Marcha contra a fome


Todos os anos, 6 milhões de crianças morrem de subnutrição (e causas associadas). Hoje, fiz parte das 10000 pessoas que, em Portugal, correram ou marcharam contra a fome.