As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

quarta-feira, setembro 30, 2020

A ciclovia da Almirante Reis

Uma ciclovia nova, rápida de construir e relativamente barata, e muito polémica - tinha que a ir ver com os meus próprios olhos!

A verdade é que uma boa ciclovia, bem sinalizada, com semáforos, clara, e ainda por cima barata, fácil e rápida de construir e que não destoa da zona onde está inserida (desculpa, Avenida Almirante Reis). Em suma, uma boa ciclovia, que gostei de percorrer, e onde me cruzei com alguns (não assim tantos, como na Avenida da República) ciclistas (e outros utilizadores). Mas uma boa ciclovia com dois grandes problemas:

- está desligada do resto da rede. Claro que a Avenida Almirante Reis, por ser um eixo estruturante de Lisboa, com uma localização privilegiada, que passa por zonas com forte concentração habitacional, e que transporta sempre muitas pessoas no pêndulo casa - trabalho - casa, justifica uma boa ciclovia. Perfeito. Mas a rede de mobilidade de Lisboa só teria a ganhar se esta ciclovia estivesse claramente ligada a todas as outras. Imagino que isto venha a acontecer no médio prazo.

- o trânsito automóvel para Norte, verdadeiramente compacto, e a sofrer de um planeamento apressado, em que, para além de ter transformado duas faixas de rodagem numa, esta ainda tem que ser partilhada com transportes públicos (incluíndo o eléctrico, com que me cruzei) e estacionamento de abastecimento às lojas, cafés e restaurantes ao longo da avenida. Está um caos. E não, a culpa não é de quem leva carro para o centro de Lisboa. O planeamento de mobilidade falhou claramente, e precisa de ser repensado.

Mas, dá gosto ver a cidade a evoluir em termos de mobilidade, e a ser cada vez mais próxima das pessoas (e das bicicletas). E sim, ainda está a uma grande distância de Roterdão, Utrecht e Amesterdão, mas dá gozo vê-la a evoluir na direção certa.




sexta-feira, setembro 25, 2020

De Telheiras ao Martim Moniz com mais umas voltas

E foi mesmo isto. Carro estacionado em Telheiras, almoço combinado no Martim Moniz, e aí fui eu de bicicleta, a experimentar e a gozar mais uma vez as ciclovias de Lisboa. E que bem que sabe poder andar de bicicleta por Lisboa!!!

E que bem que sabe perceber que a rede é perfeitamente funcional, apesar de pequena e de ter vários pequenos erros de concepção (na minha opinião), mas vale bem a pena de qualquer forma. 




segunda-feira, setembro 21, 2020

Tempestade Subtropical Alpha

Nesta sexta-feira, aconteceu algo simultaneamente extraordinário e assustador. A maioria dos portugueses viveu um dia chuvoso e com algum vento forte. Mas, na realidade foi muito mais do que isso. A poucas dezenas de quilómetros da costa Portuguesa, formou-se o primeiro furacão europeu, que atravessou Portugal continental e a Península Ibérica, em direcção ao Golfo da Biscaia.

Antes de mais, deixem-me só dizer que não chegou a ser um furacão. Não passou do nível de tempestade subtropical. Faltou-lhe mais velocidade e energia para poder ser considerado um furacão. A escala destes fenómenos começa como "tempestade subtropical", evolui para "tempestade tropical" e, depois, então, para "furacão", "tufão" ou "ciclone" (dependendo da região do globo onde se fazem sentir). Mas a génese do fenómeno é a mesma - água do oceano quente, movimento de rotação da Terra, relativa estabilidade em termos de sistemas de baixas e altas pressões, acabando por originar um sistema circular de baixas pressões, em que o ar do mar é "sugado" e sobe rapidamente. A evolução do sistema depende depois da energia térmica gerada na água quente - quanto mais quente a água e por mais tempo a depressão a atravessar (sem outros sistemas que "derrubem" a convexão), mais forte a tempestade vai ficar, subindo de nível, de energia e de capacidade destrutiva (explicação simplificada). A tempestade perde energia quando chegar a terra, onde já não terá mais água quente para sugar, e assim começa a dissipar-se (literalmente, porque o própria "centro rotativo" perde coerência). (esta é uma explicação simplificada para leigos como eu, mas dá para perceber a ideia).

Nos dias anteriores à "Alpha" (nome que a tempestade recebeu depois de se ter esgotado a nomenclatura de tempestades tropicais para 2020), as águas no triangulo Portugal continental, Açores e Madeira estavam anormalmente quentes, e o NHC (National Hurricane Center - Centro de Furacões norte-americano, que segue a evolução de tempestades tropicais no Atlântico e no Pacífico Leste) referia uma probabilidade existente, mas menor a 40%, de que uma tempestade tropical se formasse. E formou.

A tempestade não teve tempo e energia para se tornar muito forte. Apesar de tudo, a água estava quente mas não tórrida, e por se ter formado a cerca de 100ks da costa e ter rapidamente sido empurrada para cima de território de Portugal continental, não teve tempo para acumular energia, e manifestou-se apenas como alguma chuva (benvinda) e ventos fortes - apareceram também umas super-células que deram origem a tornados, mas eu não tenho conhecimentos suficientes para estabelecer uma relação.

Esta tempestade é significativa porque mostra que, com o aquecimento climático como contexto (relação provável, mas, mais uma vez, haverá gente mais inteligente do que eu a olhar para isto), a formação destas tempestades ao largo da costa portuguesa é possível. Não sei depois qual a possibilidade de intensificação para um nível em que possa causar danos significativos (o Atlântico é mais frio que o Golfo do México, curta distância entre local de origem e terra firme onde perde energia,...), mas só o aparecimento desta tempestade muda algumas coisas importantes em termos de meteorologia e proteção civil em Portugal.


P.S- Já há uns anos tínhamos tido o furacão Leslie, uma tempestade que passou pelos EUA e depois não se dissipou completamente durante a travessia do Atlântico, tendo voltado a ganhar força e a intensificar-se para o nível de um pequeno furacão junto à costa portuguesa. A Alpha mostra que a temperatura da água no triângulo supracitada no final do verão poderá ter potencial para que o Leslie não seja um fenómeno isolado, a prazo.

sexta-feira, setembro 11, 2020

PR3 VVR - O Voo dos Grifos e mais qualquer coisa

 Desde que decidimos passar uns dias numa aldeia de xisto na Beira Baixa, que liguei o meu radar sobre percursos pedestres. Mas, na verdade, nem precisei de os procurar. Assim que fizemos a reserva, o senhor do complexo disse logo "e há um percurso pedestre que começa mesmo aqui ao pé das casas" - e pronto, o percurso pedestre tinha vindo até mim...

A verdade é que adorei (adorámos) os dias nessa aldeia. Desde explorar as redondezas de carro, sair a pé para ir ver as Portas do Almourão, passar de barco pelas Portas de Ródão e ver o Tejo depois lá de cima, do alto de uma das suas ombreiras, descobrir magníficas praias fluviais (e outras que nem tanto), ver a CK e a JK felizes pelas descobertas e pelo que viviam... valeu e vale mais do que ouro para mim.

E, depois, tinha o bónus de poder correr pelo meio da floresta e montanha. Por isso, sexta-feira, acordei mais cedo, olhei e guardei a rota, equipei-me e aí fui eu, começando por descer por um caminho florestal largo, antes de passar para um trilho bem mais estreito longo do Ocreza, com as marcações dos PR. Os pulmões enchiam-se do ar puro e fresco da montanha pela manhã, enquanto as minhas pernas seguiam os olhos a descobrir o caminho e pisar em cada ponto certo do piso irregular, que se tornava mais pedregoso à medida que descía para mais perto da margem.

E foi aqui que "a porca torceu o rabo". Porque, depois de uma descida rápida apoiada por uma corda firme, as pequenas cascalheiras que tinha passado até aí desembocaram no leito de cheia do rio, pejado de calhaus, incluíndo pedragulhos maiores do que eu, que escalava - mas, marcações a indicar-me o caminho... nada... Ainda estive ali um bom bocado, a tentar adivinhar por onde seguir, mas, passado um bocado, e depois de olhar para o relógio, decidi que queria mesmo era correr, mais do que fazer bouldering, e que não queria atrasar o dia da minha família. Alá para trás!

Foi uma boa decisão, ainda corri um bom bocado ao longo do rio (agora na direcção oposta), até à praia fluvial, subi pelo estradão e explorei a correr a aldeia de Foz do Cobrão, em que estávamos, e que era (e é) uma maravilha de xisto. Desci pela rua principal e suas casas, cruzei o Cobrão, passei junto à nova praia fluvial, subi pelos campos, voltei a cruzar o rio e a embrenharm-me pela bonita aldeia, agora sempre a subir (e bem), até chegar à casa onde estávamos, com um sorriso grande nos lábios. Valeu! Muito!