Timings
Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!
Afinal, é uma multi-cache com 3 etapas, num cenário bem duro fisicamente, de baixa, mas árdua, montanha na Serra de Grândola, em que os tons suaves do castanho da terra e do verde pardo das oliveiras é temperado de quando em quando por uma passagem a vau por uma ribeira, e em que podemos contar que não vamos ver vivalma no nosso percurso, por muitos quilometros que tenha – com sorte, talvez nos cruzemos com alguma casa habitada (porque montes desabitados até há alguns) e, se formos realmente felizardos, com algum pastor a guardar o seu rebanho de ovelhas. É um percurso para ser preferencialmente percorrido de BTT, o meio ideal para vencer os cerca de 16 kms da opção mais curta (isto, se acertarem nela, porque toda a área é um dédalo de caminhos de terra), disfrutando em pleno da natureza, mas que também pode ser feito de jipe (ganha-se em tempo e comodidade, perde-se em contacto com a natureza – e aumenta o risco de ter que se voltar para trás devido a uma árvore caída a barrar o caminho…) ou a pé, para quem já tem experiência de muitos quilometros em cima das pernas. Curiosamente, ou talvez não, acaba por ser a minha cache com menos visitas – se calhar, é mais cómodo e melhor para a contabilidade de ‘apanha-tupperwares’ ir fazer 10 caches de carro na cidade, do que apenas uma que pode mesmo durar o dia todo no meio do nada…
Bom, mas, como qualquer cache, esta também tem que ser mantida. É um dos ‘mandamentos’ que é imposto ao ‘owner’ de uma cache – colocaste-a, agora, assegura-te que ela está em boas condições para receber visitantes! Faz sentido!
Escolhi o dia de hoje para fazer a manutenção pré-invernal. Bom tempo, sem calor (deviam ter visto como foi quando fui colocar a cache em Agosto do ano passado, a pedalar monte acima com 35º….), sem chuva, com um percurso ideal para afinar as pernas e a bike (gostava de saber porque razão se perdeu essa maravilhosa palavra, a ‘bina’, para a substituir por este anglicismo, mas, enfim…) para as provas de ori-btt do próximo fim-de-semana em Vila Nova da Barquinha. Chegada ao local de estacionamento às 11h (uma hora depois do suposto, mas era domingo, portanto, deêm-me folga, ok?), mochila às costas, capacete, gps, mapa, bicicleta e aí vou eu!
Foi bom voltar a pedalar no meio da natureza – já não o fazia desde a prova de Monsaraz, em Setembro! Voltar a sentir a terra debaixo das rodas da bicicleta, a suspensão a subir e a descer, os movimentos instintivos do corpo a curvar ou a ultrapassar obstáculos… Espectacular! Entretanto, dois precalços na mesma subida (a primeira digna desse nome)! A primeira: não consegui descer as mudanças para 1:x na subida – já não pegar na bike há não sei quanto tempo tem disto, vou ter que me assegurar que tudo está ok para a prova, mas não me parece que venha daí muito azar. O problema mesmo, mesmo poderia ter sido o segundo precalço, e, vamos ser sinceros – se eu não tenho desmontado porque tinha perdido balanço por não estar à mudança certa para a subida (acreditem que há males que vêm por bem…), podia ter corrido muito, mas mesmo muito mal. É que, quando eu já estava desmontado, a subir com a bicicleta pela mão… o guiador rodou todo horizontalmente! Nem queria acreditar! Fiquei mesmo com os manípulos da bike virados para baixo! Depois de 5 segundos de estupefacção e de “não posso continuar assim!”, lembrei-me que ando sempre com um ‘canivete suiço’ de chaves (estilo ferramentas) na mochila de BTT e vai de endireitar e de apertar o parafuso em causa. Bem firme, não mexe? Siga!
Todo o percurso foi feito sem problemas (afinal, eu sou o owner, e ninguém estaria à espera que me perdesse, certo?), exceptuando um caminho que está agora fechado com uma cancela. É bem possível que seja daquelas para não deixar fugir o gado, mais do que para espantar visitantes mas, como não me apetecia ter um alentejano furibundo com uma caçadeira atrás de mim (dizem que os compadres até são lentos, mas o chumbo deles não…), tratei de arranjar um caminho alternativo umas poucas centenas de metros à frente. Agora, o que me fez mesmo muita confusão foi a falta de água. Notava-se em todo o percurso! Não tive que molhar as rodas uma única vez, apesar de ter passado por inúmeros tracinhos azuis no mapa, aqueles que eu sei, porque já lá passei por outras ocasiões, que costumam ter sempre nem que seja um fiozinho de água a correr! Até as pequenas barragens para aproveitar a água para a rega e para o gado estavam praticamente vazias, mesmo como não me lembro de as ter visto em Agosto! E o gado via-se que tinha fome, que tinha falta de forragem. E a terra sente-se sedenta. Isto que não chova rapidamente e a sério!!
Fontanelas