Elemento humano
Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!
Percorreu muito. Cruzou montanhas. Vales. Rios. Viu gente. Diferente. Como eles viviam. Conheceu-lhes os olhares, as falas, os sorrisos. Aprendeu que o riso é singular, porque é igual em todo Mundo e diferente entre cada pessoa. Aprendeu o som da chuva a cair. O cheiro da terra molhada que vem a seguir. O toque frio do nevoeiro numa manhã de Inverno. O calor suave de um fim de tarde de Verão junto à praia. Aprendeu o valor de cada passo. De cada metro que cada passo permite correr. De cada dia de viagem feito de mil metros, cada um tendo um passo. De cada Mundo de vida que centenas de dias de viagem a caminhar mil metros e mil passos de cada vez significam. Aprendeu a sentir. Aprendeu a escutar, a olhar, a cheirar. A saborear cada momento. Aprendeu a viver.
E, um dia, disse, que já não queria mais. Que já tinha visto muito do Mundo. Que sabia que não tinha visto tudo, mas que o que conhecia lhe bastava, e o resto deixava para a imaginação, porque tinha aprendido que era importante sonhar. E então escolheu um sítio com gente boa. Debaixo da sombra de árvores, com um lago ao pé. Onde podia ouvir o riso das crianças e as promessas de amor dos namorados. E sentou-se. Quieta. Parando.
E quando o fez, fez uma nova promessa. Assim como tinha recebido a sua missão, há muitos e muitos anos atrás, ela entrega-la-ia agora. A todos. A todas as pessoas. Porque se ela tinha caminhado e visto o Mundo e percebido o valor de cada passo, de cada sensação, de cada segredo, então ela agora passava para todas as pessoas a oportunidade de prosseguir a missão que era dela. Ela dizia a todos para irem à procura dela. Para a procurarem a ela e a todas as suas irmãs que estavam espalhadas pelo Mundo. Em segredo. E para que, qualquer homem que assim se tornasse viajante, passasse a aprender o valor de cada passo, de cada sensação, de cada segredo.
Correr de ressaca e uma coisa terrível. Para já, porque sabemos que somos os únicos culpados da situação - quer dizer, ou uma pessoa corre ou bebe! As duas coisas de seguida e que e complicado! Depois, os primeiros quilometros são um sofrimento atroz, uma luta terrível contra a ma-disposição. E inglória, diga-se de passagem. Depois, aquilo passa (ou por que se desiste de correr ou porque o nosso corpo decidiu desligar qualquer função cerebral de perceptividade sobre a condição do nosso corpo) e ate conseguimos fazer uns quilometrinhos jeitosos. De tal maneira que uma pessoa ate se esquece da vontade terrível e premente de ir a casa de banho durante cada segundo em que corremos...