Temos uma vila medieval. No topo de um monte. Ao pé de uma lagoa. Céu azul. Campos cultivados e floresta à volta. Boa! Está a parecer bem! Como é que é a vila? É medieval! Logo, tem um castelo! Com uma torre de menagem forte. É feito de pedras cinzentas. A vila tem uma muralha à volta. Com torres e ameias. A pedra das muralhas também é cinzenta. As casas lá dentro são brancas. Com hera a trepar pelas paredes, até às janelas. E chão de empedrado. E lá dentro? Como é que são as pessoas? Não sei. Ainda. Acho que precisamos de uma história. Se começar a escrever a história, as pessoas vão aparecer automaticamente. Boa!
Acho que precisamos de uma princesa. Vamos pensar nela loira (é a tradição, não me perguntem porquê). Olhos azuis. Vestido daqueles pesadões, com folhos. Escarlate. Fica-lhe bem! (foca-te na história!) Vamos pô-la na torre. Não, na torre de menagem, a mais forte! O que é que ela está lá a fazer? É isso - está prisioneira. Do seu tio. Porquê é que um tio ia prender a sobrinha numa torre? Porque é malvado, duhhh! Só isso? Não! Claro! Na realidade, o tio tem a princesa refém para ficar a governar as terras em seu nome - se ela morrer, a família perde as terras, se ela se libertar, o tio é exposto pelas suas perfídias e preso na prisão real numa terra grande e distante. Ok! É credível! Gostas, Princesa?
- "Obrigado! Meu bom e fiel criador!"
- "Oh! De nada! Na realidade, somos sempre prisioneiros das nossas personagens!"
- "Hei! Quem está na torre sou eu!"
- "Bem visto! E, por falar nisso, tenho uma história para escrever..."
Bom! Temos a Princesa fechada numa torre (não faças má cara, miúda, senão ponho-te numa masmorra com um ogre!). E agora? Precisamos de um garboso jovem. Para a salvar. Óbvio! Isto está a ficar demasiado óbvio. Como é que o posso tornar menos óbvio? ... Ah! Já sei! O salvador da princesa! É um rato! O Topo Giggio! Feito!
Estava uma noite estrelada, com uma Lua cheia a brilhar no horizonte, e uma outra mais pequena, ao lado, minguante (já que tenho um rato que vai falar daqui a meia dúzia de linhas, posso ter duas luas no Céu, certo? Quem manda aqui é quem escreve!). A noite é de um azul de veludo, escuro. O Topo Giggio entra sorrateiramente no castelo. Pelo buraco pequenino na porta principal, aquele, em baixo, do lado direito. Pé ante pé, devagarinho, encaminha-se para a torre de menagem, aproveitando as sombras. E, lá chegado, absorvendo enamorado o doce perfume que exalava da janela mais alta, gritou:
Pr - "Quem chama o meu nome na mais profunda escuridão da noite?"
TP - "Sou eu! Estou aqui para te salvar!"
Pr - "Quem? Não vejo ninguém!"
TP - (suspiro) "Aqui! Em baixo!"
Pr- "És um rato? Estou a ser salvo por um rato?"
TP - "Tens alguma coisa contra? Estou aqui, não?"
Pr - "Desculpa! Estava à espera de qualquer coisinha diferente!"
TP - "Também eu! És loira e de olhos azuis! E tens orelhas e um nariz pequenos! Também não és propriamente o meu estilo!"
Pr - "Mas que raio de história é esta?"
LP - "Querida! Esta é a minha história, ok? Sou eu quem a está a escrever! E agradecia que se comportassem minimamente para eu a poder continuar a escrever!"
TP - "Pfff! Está a escrever um log de uma cache, é o que é!"
Pr - "Outra vez? Não me podias ter posto numa peça de teatro?"
LP - "Fofa, eu não escrevo peças de teatro! Faço uns logs de umas caches, escrevo umas piaduchas num blog, uns tweets, mails de trabalho, relatórios... Não escrevo peças de teatro!"
Pr- "Topo, já vi que isto já deu o que tinha a dar... Vamos beber um copo ali à rua principal?"
TP - "Vamos. E, oh escritor? Apaga lá a segunda Lua que esta historieta já deu o que tinha a dar!"
LP - "Prima donnas... Estou rodeado de prima donnas..."