As crónicas do Lynx

Uma colecção de pequenas crónicas dedicadas a uma grande paixão de sempre: Viver essa maravilhosa aventura que é o dia-a-dia!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Neve?

Será que é desta que me vou estrear no snowboard? A Sierra Nevada o dirá este fim-de-semana. Confesso o meu entusiasmo com a perspectiva e o meu nervosismo com as minhas vertigens e os meus joelhos...

domingo, fevereiro 10, 2008

O meu fato

Nos últimos 5 anos, tem havido uma constante sempre que vou fazer orientação pedestre. O meu ‘velho’ fato do Challengers, da edição de 2008, com as suas cores azul-bebé fluorescente e amarelo, tem-me acompanhado inseparavelmente em tudo o que é prova, seja no Verão no Alentejo ou no pico do Inverno no Alvão.

Tal devesse em grande medida à qualidade do fato (na realidade, são dois, exactamente iguais). É um fato-macaco, uma peça única, que se veste por cima e que costuma suscitar a pergunta “Há alguma prova de rallies por aqui?” sempre que paro numa estação de serviço ao longo da prova. Com o tecido resistente (tantas silvas que ele já atravessou, tantos arames farpados) e leve qb, quente completamente apertado até cá acima (e que jeito que isso dá quando se está a correr com 0º de temperatura!) e fresco se despir a parte de cima e a enrolar à volta da cintura, tem ‘valido um cavalo’ na guerra.

Agora, vai ficar algum tempo no armário. Uma vez que me tornei um atleta do CPOC, tenho que começar a envergar as cores (laranja e azul) do clube. O meu novo fato é um conjunto de 2 peças, leves e consideravelmente mais respiráveis, que muito jeito me vão dar no Verão (se bem que eu desconfie que em climas mais frios, vou mesmo ter que usar uma ‘termotebe’).

Mas, o meu fiel fato de Challengers vai continuar comigo. Pronto para que, um dia, eu precise dele.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Perdidos no Gerês

Confesso que, assim que ouvi a notícia, fiquei de orelha no ar - 3 montanhistas perdidos no Gerês? Na zona entre a Portela do Homem e Pitões das Júnias? Hmm! Há aí pelo menos duas caches consideradas mais puxadas, a 'XXL Challenge' (nas antigas minas dos Carris) e a 'Tou às Aranhas', ainda mais para cima, no pico da Nevosa, a 1550 metros de altitude - seriam geocachers que se tinham perdido a tentar fazer alguma destas caches? A das Aranhas obriga a uma caminhada mínima de 24 kms (contando com ida e vinda) longe da civilização e, pela sua dificuldade e espectacularidade, é uma das caches míticas em Portugal! Afinal, parece que não seriam geocachers (pelo menos, não eram conhecidos de nenhum dos habitués, e ainda não se acusaram), mas sim gente que estava a fazer a rota entre (lá está) a Portela do Homem e Pitões das Júnias, um trajecto que dizem ser muito interessante.

E claro que deveriam ter tido mais atenção às condições atmosféricas, que não deveriam ter saído com aquele tempo! Mas, à parte isso, que ninguém pense que só estão, neste momento, bem de saúde por uma questão de sorte. Estes senhores iam equipados para o que os esperava, e tomaram as decisões nos momentos certos, nada tendo a ver com simples curiosos que se aventuram num grande desconhecido sem saber o que fazem (e como muitas vezes se vêm exactamente naquelas paragens). Levavam tenda, sacos-cama de montanha e roupa que lhes permitiu passar uma noite gelada a mais de 1000m sem problemas de maior. Eram conhecedores da área (pelo menos um deles). Levavam GPS, que lhes permitiu comunicarem as coordenadas do local onde se encontravam (claro que, aqui, vem a minha única dúvida - mas que GPS é que eles tinham que não lhes permitiu fazer trackback, uma opção que nos permite refazer os nossos passos, estabelecendo sempre uma rota segura para trás?). Levavam telemóvel funcional e souberam quando o usar - a rede não abunda naqueles picos e, por isso, a decisão de ligar naquele momento foi de extrema importância, uma vez que umas centenas de metros mais à frente, podia já não ser possível o contacto. Ligaram a pedir ajuda quando perceberam que não tinham já possibilidade de um regresso seguro e quando 2 dos membros entraram em pânico (em lugar de começarem a tentar sair dali ao calhas). Todo o grupo nomeou e respeitou a decisão do 'chefe de expedição' quando ele decretou que se iria pedir a evacuação. Souberam dar as coordenadas de forma precisa e mantiveram-se no local, possibilitando o salvamento seguro.
Que ninguém tenha ilusões, estes tipos safaram-se sem problemas porque estavam bem preparados, em equipamento e comportamento!
Claro que, não se deviam ter feito à serra ante a possibilidade de neve. A altitudes elevadas, o tempo tem um comportamento imprevisível e rege-se por leis muito próprias. O ano passado, a 1 de Maio, com tempo de praia no Estoril, fomos impedidos de fazer a multi-cache do Cântaro Gordo, na Serra da Estrela, por um forte nevão! Foi uma excelente lição! (e não estávamos, nem por sombras, tão bem equipados quanto estes tipos...)

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Cobra

Parece borracha. Não é bem fria, mas não é definitivamente quente. E é macia, mas sem ser aveludada ou sedosa, ou como o pêlo de um animal. E não é viscosa como estava à espera.

Enfim, quem diria? Vendo bem, algum dia teria que ser, para aprender! Meter a mão em tantos buracos escuros e fundos... Bom, mas, pensando um pouco, até correu bem - ela não me mordeu, limitou-se a acordar e a fugir mais para o fundo, infinitamente mais assustada do que eu, que precisei de lhe mexer duas vezes e de a ver a mexer-se para perceber o que tinha feito!

Hoje, pela primeira vez na minha Vida, e quando estava à procura de uma cache num buraco em Cacela Velha, toquei numa cobra...

"Está tudo bem?"

"Está tudo bem?", perguntei à rapariga sentada, no meio do pinhal da zona do Pontal, em Faro.


-"Mais ou menos" respondeu ela. Uma resposta que imediatamente me fez parar a minha prova - não ia deixar aquela miúda no meio do mato, se precisava de ajuda.

- "Então? O que se passa?" perguntei, olhando para o tornezelo da perna esquerda, num ângulo estranho.

- "Estou a sentir-me meio tonta", disse, recolocando a perna numa posição normal ("ufa!", pensei, "não é o calcanhar partido").


- "Sim?"


- "Estou a sentir-me muito cansada"


- "Queres voltar para trás? Quantos pontos é que te faltam?"


- "Estou no sexto. São dezoito."


- "Hmm! Sabes onde estás?"

- "Sim! Estou muito cansada. Sinto-me tonta. Tenho desmaios desde os 7 anos e fui fazer exames, mas ainda não sei os resultado. Sinto como se tivesse uma bola no topo da garganta"

ALARME! Tonturas, cansaço, desmaios crónicos desde que é miúda - o que será? Estou realmente muito preocupado e preparo-me para acompanhar a rapariga até às chegadas, quando...

Foi como se tivesse chegado um anjo! Era a pessoa que eu mais queria ver ali naquele momento! Detrás de um arbusto, a consultar o mapa, com o inconfundível chapéu na cabeça, a Gisela Martins acabava de entrar em cena - e, para além de ser uma orientista do CPOC, de ser geocacher e de a considerar como amiga,... a Gisela é médica!!!

- "Gisela, podias chegar aqui?


- "Olá! Tudo bem? Tivémos aqui um acidente?"


Em poucos segundos a rapariga foi submetida a uma rápida e eficiente consulta. Diagnóstico? Quebra de tensão por cansaço, mas já a recuperar visivelmente! Já se sentava e estava a ser coerente no que dizia! Estava a ganhar forças Ufa! Deixámo-la com 2 pacotes de açúcar e a minha barra energética de emergência e a viva recomendação de apanhar o caminho principal para trás - mas não precisávamos de a escoltar até lá.

A Gisela agarrou no mapa e seguiu um azimute Sul. Uma última pergunta "Queres que vá contigo?", um "Não" confiante, um último olhar para me assegurar que tudo estava bem e continuei o caminho por Noroeste.